Santa Casa de Araçatuba implanta NIR para aumentar rotatividade de leitos
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Com as ações do Núcleo Interno de Regulação, direção do hospital espera reduzir a média de permanência de 6,94 dias para 5 dias; objetivo é equilibrar oferta e demanda de leitos
A Santa Casa de Araçatuba implantou oficialmente segunda-feira (8/8/) o Núcleo Interno de Regulação (NIR), um sistema de gestão entre a oferta e a demanda de leitos do hospital, uma ação que visa melhorar o atendimento, uma das metas da diretoria da instituição.
O NIR possibilita o monitoramento do paciente desde seu ingresso no hospital, as movimentações internas e externas, até a alta hospitalar, com objetivo de dinamizar a rotatividade dos leitos e a racionalização dos fluxos de todos os serviços que o hospital disponibiliza, como os ambulatoriais, medicina diagnóstica, agenda de cirurgias eletivas, dentre outros.
O hospital vem registrando há vários meses, 100% de ocupação dos leitos e média 30 pacientes das 40 cidades para as quais é referência de alta complexidade, inseridos na Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde) e na regulação municipal de Araçatuba, aguardando leitos para internação.
Com o NIR, previsto em portaria do Ministério da Saúde, que trata da Política Nacional de Hospitalização do Sistema Único de Saúde, publicada em 2013, hospitais que a exemplo da Santa Casa de Araçatuba são referência em alta complexidade e integram a Rede de Urgência e Emergência – RUE, devem adotar o sistema para a interlocução com as centrais de regulação. O objetivo é facilitar o acesso dos usuários, na medida em que suas necessidades de assistência de saúde sejam compatíveis com o perfil e capacidade de absorção do hospital. Daí a importância da gestão dos leitos, das médias de permanência e do índice de rotatividade nas diferentes unidades de internação.
“ A implantação do NIR é um grande passo que estamos dando para avançarmos na melhoria dos atendimentos prestados aos pacientes e também na resolutividade do trabalho das várias equipes de colaboradores envolvidas nos atendimentos “, define o provedor Petrônio Pereira Lima.
Redução de permanência
A meta da Santa Casa de Araçatuba é atingir como média geral permanência menor que 5 dias para pacientes clínicos e cirúrgicos. No período que antecedeu a implantação do NIR, a média geral de permanência no hospital é de 5,65 dias, sendo que para pacientes SUS, a média tem estado em torno de 6,94 dias de internação.
“Tem casos que ultrapassam essa média, mas isso ocorre porque as condições clínicas do paciente impedem sua alta”, informa o administrador da Santa Casa de Araçatuba, Luiz Otávio Barbosa Vianna ao explicar que pelo sistema, o paciente permanece no hospital o tempo adequado à sua condição clinica, nem alta precoce e nem permanência além do tempo que deveria ficar.
De acordo com o administrador, a estrutura do hospital não pode conviver com dias de permanência evitáveis “ o que não ocorreu porque não foram providenciadas necessidades específicas para o momento da alta”. Paciente aguardando resultados ou a realização de um exame que deve ser feito no próprio hospital; falta de previsão e de busca às condições mínimas para a continuidade do cuidado, seja na residência do paciente ou em outras unidades de saúde, do município ou microrregião onde reside o paciente, estão entre os casos que prologam permanências no hospital.
O NIR faz a gestão dos fluxos internos do hospital exatamente para que as ações sob sua governança sejam realizadas no tempo certo na expectativa de reduzir o tempo de permanência do paciente, aumentar o giro dos leitos para que mais pacientes possam ser internados”, para que ao final o hospital consiga atender melhor a demanda, que está aí, batendo em nossa porta”, define Vianna.
Regulações integradas
O NIR implantado na Santa Casa de Araçatuba encampou a regulação dos serviços médicos e incorporou a regulação da utilização dos leitos. O sistema atua desde o acolhimento do paciente no Pronto Socorro, à internação clinica ou encaminhamento ao bloco cirúrgico e programando a sua alta.
Os dois serviços foram instalados em uma sala localizada no entorno do pronto-socorro do hospital. Funciona 24 horas por dia e sete dias por semana, através de equipe composta por um médico regulador, uma enfermeira coordenadora, um enfermeiro por turno, uma assistente social, um técnico administrativo. O NIR está diretamente ligado à administração do hospital e à diretoria técnica, os quais respondem diretamente à provedoria e diretoria geral da Santa Casa.
O sistema envolve todos os setores do hospital, desde o Pronto-Socorro, com a agilização dos exames necessários para o diagnóstico, alta e/ou internação do paciente, aos serviços ambulatoriais e de diagnóstico, alas de internação, centro cirúrgico e serviço social, sempre com apoio de Equipe Multidisciplinar.
Foi instituído no dia 1 deste mês e a primeira semana foi dedicada à implantação logística, à divulgação interna e apresentação da equipe e treinamento dos setores de enfermagem das ferramentas do sistema.
“Apoiando o NIR estamos utilizando o sistema Kanban, adaptado para a rotina hospitalar, o que possibilita a visualização da evolução da internação por meio de cores que alternam do verde, amarelo e vermelho indicando o andamento do período esperado para aquela internação”, detalha Vianna.
O monitoramento do paciente em tempo real é possibilitado por planilhas automatizadas e atualizadas com informações diárias inseridas pelas equipes de enfermagem. As planilhas têm informações sobre possíveis pendências em relação ao tratamento ministrado, como por exemplo realização de exames para diagnóstico, resultados de exames, avaliação médica ou outro procedimento necessário para o paciente chegar à condição de alta.
“O NIR se apodera desses apontamentos para que os processos necessários aconteçam dentro do prazo previsto de tal forma que ao completar o período esperado da internação todas as providências estejam consolidadas”, explica Vianna.
A equipe do Núcleo fará visitas diárias aos pacientes e nos casos de permanência após a data esperada para alta averigua os fatores que a impediram. Situações em que as condições clínicas impedem a liberação do paciente, ele seguirá internado. Se foi causada por outros fatores sob a governança do hospital, eles serão agilizados.
Serviço social
A atuação da assistente social da equipe é o elo que consolida providências nem sempre de responsabilidade do hospital, porém quando não são ajustadas antecipadamente, retardam a saída do paciente do leito.
Dietas especiais, oxigênio e até uma cadeira de rodas estão entre os itens que quando necessários no pós-alta, inviabilizam a saída imediata de pacientes clinicamente em condições de voltarem para casa, mas que não têm recursos para adquiri-los e precisam recorrer aos municípios e/ou Estado.
Nem sempre as famílias estão preparadas para acionar esses recursos. Essa limitação aliada às tramitações dos processos resulta em mais tempo de internação que não seria necessário, caso as necessidades tivessem sido previstas e providenciadas desde os primeiros dias da internação, quando o planejamento de alta já deve ser iniciado.
Pela atuação do NIR, a assistente social começa a providenciar ou orientar os familiares do paciente já no primeiro dia de internação. A meta do esforço concentrado em relação à essas questões sociais é agilizar de tal forma, que na alta do paciente os processos já estejam autorizados. “Isso vai eliminar os casos de pacientes que seguiam no leito, mesmo depois da alta, aguardando o andamento dos processos”, prevê o administrador.
Sala de alta
As ações do NIR também preveem a criação de um espaço exclusivo para acolher pacientes que receberam alta médica das alas de internação e do pronto-socorro, mas precisam permanecer no hospital, pois dependem de familiares ou de ambulâncias municipais para voltarem para casa.
Hospital de referência para 40 municípios, a Santa Casa de Araçatuba registra diariamente vários casos de pacientes que permanecem várias horas nos leitos porque as ambulâncias têm várias demandas a cumprir na cidade e na região antes de atenderem as remoções de pacientes de alta. Nesse período, o paciente segue no leito, impedindo a internação de outro paciente.
No espaço que será criado pela Santa Casa de Araçatuba, pacientes nessas condições, poderão aguardar as remoções com conforto e assistência. A sala terá poltronas reclináveis e a presença de um técnico de enfermagem capacitado para agir caso ocorra alguma intercorrência. Se a remoção não ocorrer em períodos próximos aos horários das refeições, o paciente será servido no local.
Resultados
O conjunto de ações do NIR deve apresentar nas primeiras semanas de implantação identificação dos principais fatores que têm provocado o desequilíbrio entre a oferta e a demanda de leitos do hospital. “À medida que as situações são identificadas o NIR entrará com as ações para solucioná-las”, afirma o administrador da Santa Casa de Araçatuba.
Vianna, que participou da implantação e estruturação do NIR em diferentes hospitais deste e de outros estados, prevê que em três meses o sistema instalado na Santa Casa de Araçatuba estará resolutivo e refletirá em todo o hospital com uma nova dinâmica na ocupação dos leitos. No entanto, ele esclarece que a expectativa é em relação a redução da fila de espera por leitos.
“Não conseguiremos zerar essa fila, porque a demanda da região é maior do que a capacidade instalada do hospital”, afirma o administrador. Para eliminar a espera, o hospital teria de construir mais uma ala de leitos e não tem recursos para isso”, conforme afirma o administrador.
No entanto, Vianna explica que “o NIR vai ajudar a evidenciar essa demanda e suas necessidades, o que será útil para as gestões que serão feitas pela diretoria ao Governo do Estado e aos municípios atendidos, no sentido de melhor direcionar os casos de internação, reservando os leitos da Santa Casa para os casos de efetiva alta complexidade, que corresponde ao perfil e vocação do hospital.
O investimento mais recente efetuado para ampliação de leitos na Santa Casa de Araçatuba ocorreu em 2004 com a construção de uma torre com capacidade para 106 leitos e instalação de serviços de apoio. A construção e equipamentos necessários foram custeadas com recursos do Governo do Estado. A torre foi inaugurada em 2006 e elevou em 30% a capacidade de internação.