Vida profissional ativa é cada vez mais comum após os 60 anos
Ana Maria Nicoletti
Especialista avalia como saudável se manter ativo no mercado de trabalho, mas alerta para cuidados específicos que essa fase da vida exige
O filme ‘Um Senhor Estagiário’, que tem as estrelas do cinema Robert De Niro e Anne Hathaway como protagonistas, já relatava no ano de seu lançamento (2015) os sabores e dissabores de chegar à terceira idade sem uma atividade profissional e com uma alta bagagem que ainda poderia ser muito utilizada. A trama aborda o desafio de se ter um novo emprego na terceira idade.
Saindo das telas e trazendo para a realidade cotidiana, milhares de brasileiros que atravessam a fronteira dos 60 anos também passam por movimentos parecidos a do personagem Ben. Segundo dados mais atualizados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apesar dos idosos serem uma parcela ainda pequena da população ativa no mercado, os números vêm aumentando, saindo dos 5,9% em 2012 para 7,2% em 2018, o que representa algo em torno de 7,5 milhões de brasileiros idosos na força de trabalho do país.
“As empresas notaram que profissionais maduros são mais comprometidos e gostam de trabalhar em equipe. A diversidade de gerações no ambiente corporativo é bastante positiva e saudável, com troca intensa de conhecimento e experiências”, avalia psicólogo e professor do UniToledo, Fabrício Otoboni.
Segundo o professor, a sociedade ainda é um tanto preconceituosa em relação a terceira idade, por, limitadamente, achar que pessoas nesta faixa etária são mais lentas, menos ligadas à tecnologia ou por não fazer muitas atividades ao mesmo tempo, desconsiderando a valiosa experiência de vida que esses pessoas possuem. “As empresas estão entendendo que inserir o idoso na equipe é vantagem. É preciso entender a posição de trabalho mais adequada e preparar o ambiente para que seja acessível a todos”, lembra ele.
O Estatuto do Idoso, que no dia 1º de outubro completou 18 anos, trata dos direitos dos idosos, incluindo aqueles relativos a trabalho e renda. “Não é preciso encarar o documento como algo punitivo, mas sim como uma lei de orientação que permite valorizar o ser humano”.
Histórias inspiradoras
Ana Maria Nicoletti tem 65 anos e há 40 anos é funcionária do Centro Universitário UniToledo. Atualmente, ela exerce o cargo de coordenadora de relacionamento.
Apaixonada pela Educação, Ana Maria acompanhou o desenvolvimento de muitos profissionais que hoje atuam em Araçatuba e em diversas cidades do País. “A educação é uma grande paixão e estar no ambiente escolar é muito especial. É muito gratificante acompanhar o desenvolvimento e a evolução dos alunos, a forma como entram e como saem da faculdade, depois de formados. Além disso, estar neste ambiente e conviver com os jovens me inspira muito, oxigena as ideias, há uma troca intensa de conhecimento. Por meio dela consigo aprender e ensinar”, explica Ana Maria.
Além de uma grande profissional, ela também é esposa, mãe e avó, mas com disposição, energia e jogo de cintura, consegue desempenhar todas as atividades com carinho e muita atenção. Mesmo aposentada há 15 anos, Ana Maria levanta todos os dias para trabalhar motivada e com propósito bem definido.
“Gosto de trabalhar e é algo importante para mim, que me faz bem. Consigo me atualizar, estudo bastante, acompanho o ritmo e as necessidades que minha profissão exige, mas sei que o momento de parar vai chegar um dia. Ainda não é a hora, nem é o meu desejo, mas, quando chegar, irei encontrar outra atividade para me dedicar, que não precisa ser profissional. O importante para o idoso é estar em movimento, ocupar a cabeça e fazer algo que o complete”, encerra Ana Maria.